(Eclesiastes 3:2)
É importante iniciar este artigo informando que o vocábulo “tempo” aparece trinta e oito vezes em Eclesiastes, vigésimo primeiro livro veterotestamentário. Não há outro livro na compilação bíblica que empregue tantas vezes essa palavra como se vê no Eclesiastes (cujo autor, segundo a maioria dos historiadores, foi Salomão). Basta lembrar que no livro de Salmos, surge o vocábulo dezoito vezes; em Jeremias, por exemplo, aparece trinta e uma vezes. Nos demais, o número de incidências é menor[1].
Entrementes, o que pensam os filósofos acerca do delta “tempo”? Aqui não é o espaço para elucubrações filosóficas, nesse sentido. Contudo, urge trazer apenas algumas considerações antes de apresentarmos um pequeno ensaio sobre o qual debruçamos aqui e agora.
Sob o ângulo filosófico, o tempo pode ser estudado, tradicionalmente, em três concepções: 1) o tempo como ordem mensurável do movimento, um conceito cíclico do mundo e da vida humana, na Antiguidade;
2) o tempo como movimento intuído, um conceito de consciência, com a qual o tempo é identificado e
3) o tempo como estrutura de possibilidades, derivada da filosofia existencialista.
Para Platão, o tempo é: “a imagem móvel da eternidade”. Para Aristóteles, “o tempo é o número do movimento segundo o antes e o depois”. Para os estóicos, “o tempo é o intervalo do movimento cósmico”. Para Epicuro, “o tempo é uma propriedade, um acompanhamento do movimento”. Para Hobbes, “o tempo é a imagem (phantasma) do movimento, na medida em que imaginamos no movimento o antes e o depois, ou seja, a sucessão”. Para Heidegger, o passado pode ser entendido como ponto de partida ou fundamento das possibilidades porvindouras, e o futuro como possibilidade de conservação ou de mudança do passado, em limites (e aproximação) determináveis, conforme se lê na linguagem do dicionarista[2].
Volvendo o olhar para o versículo bíblico transcrito acima, verificar-se-á que a expressão bíblica escrita por Salomão, contém duas frases separadas por um ponto e vírgula, pontuação cuja primeira finalidade é separar orações sindéticas adversativas e conclusivas. Exprime, pois, idéias adversas, situações temporais antagônicas. É necessário entendê-las, à luz da linha revelacional. Existe uma sequência de quatro “tempos” estruturada de forma interessante.
Nessa quadra, a primeira frase: “Há tempo de nascer, e tempo de morrer” – descreve a finitude e a temporalidade da vida humana. Assim é que, o Salmo 90, o único escrito por Moisés (alguns afirmam que o 91 também o foi), em seu versículo 9, apregoa: “Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se os nossos anos como um conto ligeiro”.
Nessa linha de idéias, existem apenas dois fatos, em planos opostos, absolutamente certos e inevitáveis na vida do ser humano, o ser que respira, que se angustia, que pensa: o nascimento e a morte. Entre eles, vamos preenchendo e escrevendo a nossa história com as escolhas que fazemos ao longo de nossa existência, mas são imprevisíveis. Essa é a inquietação do ser humano: a busca constante, a busca pelos significados.
Certo é que o espaço de tempo – progressão de pequenos e grandes momentos – da vida temporal do ser humano refere-se ao grego chronos (daí a palavra “cronologia”). Uma sucessão de “ágoras” (do grego: nun). O “agora” que se foi (passado – lembrança); o “agora” que virá (futuro – esperança) e o agora” que está sendo (presente).
Com efeito, todos vivem o “tempo de nascer e tempo de morrer”. É inevitável.Todavia, o homem natural (em contraposição ao homem espiritual) não consegue transcender a materialidade temporal finita; não consegue ultrapassar o “ponto e vírgula” do texto ora sob comento, porque foge ao plano racional visível. Só se enxerga com os olhos da fé, o “firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (cf. Hebreus 11:1).
Decerto, a humanidade não nasceu de um aleatório inconsciente, de um processo irracional de evolução (teoria evolucionista), obra de um acasotresloucado transformado em sistema perfeito; houve, sim, um inteligente comando maior consciente primeiro; uma primeira causa: Deus, o Eterno (teoria criacionista). O homem não criou Deus; Deus criou o homem.
A existência humana tem um motivo nobre, um elevado valor que transcende ao mundo físico, uma razão que repousa no Projeto de Deus, conquanto muitos ainda não enxerguem a magnitude desse Projeto. Somente o ser humano é capaz de se relacionar com o seu Criador, porquanto foi a única criatura que dEle recebeu o fôlego divino, razão pela qual também possui uma dimensão eterna. O ser humano não é insignificante.
Certamente o convite que aqui se faz é ultrapassar o “ponto e vírgula”, transcender o aqui e agora (o hic et nunc dos romanos) para penetrar na dimensão do tempo eterno (geralmente quem não o conhece tende a negar a sua existência, é compreensível). Para tanto, é necessário transpor o singelo chronos (tempo humano), passar pelo tempo kairos(‘estação; temporada; oportunidade”[3], o novo nascimento), para chegar ao eterno, ao aiõnios(tempo eterno).
Sob esse viés, quando Jesus morreu e ressuscitou, Ele “plantou” uma Igreja que seria fiel ao seu propósito. No Salmo 80, versículo 15, lemos: “E a videira que a tua destra plantou, e o sarmento que fortificaste para ti”. Nesse sentido, Paulo escreve na epístola para os Romanos (Rom. 6:5): “Porque, se fomos plantados com Ele na semelhança de Sua morte, também o seremos na de sua ressurreição”. Ali, bem ali, no Calvário, o Plano de Deus chega ao ponto culminante e o Senhor Jesus exclama com um grande brado: “Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19:30). Obviamente Ele não morreu para ser um singelo mártir, dentre outros. Um plano se evidenciava. Ele passou pelo primeiro binômio temporal: “tempo de nascer e tempo de morrer”, em sacrifício perfeito, para nos proporcionar, se crermos, o segundo binômio, “tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou”.
Ocorre que essa Igreja essencial plantada no Calvário, comprada pelo alto preço da redenção, será arrebatada. Então, será o tempo de “arrancar o que se plantou”. Paulo escreve, na primeira epístola aos Tessalonicenses (I Tes. 4:17): “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
Ultrapassar o “ponto e vírgula” – esta é, afinal, a proposta desta mensagem – étranscender o tempo do homem e entrar no tempo de Deus, entendê-lo tal comoprojetado por Ele na eternidade. Caminhar da temporalidade à eternidade, da
razão á revelação, do material ao espiritual. Uma experiência maravilhosa que o Senhor Jesus deseja te proporcionar se O aceitares. Ele está segredando este convite misterioso e aprazível. Amém
Diácono: Daniel - Paraná
Nenhum comentário:
Postar um comentário