POR ÁLVARO OSTROSKI
"Porque o Reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha". Mateus 20:1
Vamos iniciar fazendo uma pergunta: Porque Jesus contou esta Parábola?
Para saber a reposta precisamos analisar os versos anteriores da Parábola. Inclusive a palavra “porque” que inicia a Parábola é na língua portuguesa conhecida como conjunção explicativa, ou seja, ele une duas mensagens (orações) onde a segunda explica à primeira. Logo a Parábola vai explicar a mensagem que vinha antes dela.
ENTENDA O CONTEXTO:
Antes da Parábola temos o relato do fato de que um jovem rico chegou até Jesus perguntando como conseguiria a vida eterna (Mateus 19:16); Jesus lhe respondeu que guardasse os mandamentos; Jesus cita alguns dos 10 mandamentos de Êxodo 20:3-17;
O jovem percebeu que lhe faltava algo; Jesus manda que o jovem venda suas propriedades, dê aos pobres e siga-o; O jovem então ouvindo a palavra de Jesus se retira, pois possuía muitas propriedades.
Aqui estava o ponto fraco do jovem, o mandamento que Jesus intencionalmente não havia citado que é “não cobiçarás” (Êxodo 20:17) e por conseqüência a ganância. Aqui cabe uma reflexão “em qual dos mandamentos eu e você tropeçamos?”;
Tal jovem achava que por suas boas obras seria salvo, veja como ele se dirigiu a Jesus “que bem farei, para conseguir” (Mateus 19:3);
OBRA X GRAÇA:
Com isso Jesus demonstrou que o homem nada pode fazer para ser salvo;
Jesus agora fala para seus discípulos que é muito difícil um rico entrar no reino dos céus, devido ao seu apego aos bens materiais e a sua auto-suficiência (Mateus 19:23-24);
Os discípulos se surpreendem com aquilo e perguntam quem poderia então “salvar-se” (Mateus 19:25);
Primeiramente veja a expressão dos discípulos “salvar-se”. A idéia judaica da época era que a salvação vinha pelas boas obras (guardar a lei, dar esmolas). Observe todos os embates de Paulo no Novo Testamento entre Obras X Graça;
A questão na mente dos discípulos era “se o jovem que tinha boas obras e era rico não era salvo, quem seria?”. Tinha-se a idéia no judaísmo da época que a riqueza era evidência da salvação (idem ao que afirma a Teologia da Prosperidade atualmente);
Jesus demonstra que para o homem “salvar-se” (auto salvar) era impossível, mas a Deus era possível – Graça/Deus salva o homem (Mateus 19:26);
Pedro pergunta qual recompensa terão por terem deixado tudo e seguirem a Jesus (Mateus 19:27);
Jesus mostra que haverá uma recompensa futura onde os discípulos julgarão a Israel, terão bênçãos e herdarão a vida eterna. (Mateus 19:28,29) Lembre-se discípulos de Jesus a época eram judeus. Veja a diferença entre a colocação do jovem rico “que bem farei, para conseguir” e a colocação de Jesus “herdarão”. Bem fazer e conseguir da idéia de esforço, mérito próprio, já herdar dá a idéia de herança, algo que você recebeu de forma gratuita;
Jesus finaliza com uma advertência (Mateus 19:30);
A PARÁBOLA DOS TRABALHADORES:
Pelo contexto observamos que está em jogo:
•Obras X Graça;
•Trabalho e Recompensa.
Jesus vai mostrar que no reino a matemática entre trabalho é recompensa é diferente da nossa concepção, onde nós fazemos por merecer nosso salário na empresa em que trabalhamos. O que nosso patrão nos paga é dívida. No reino o que Deus nos paga é graça. O amadurecimento no entendimento da graça nos leva a ver que se fazemos o que fazemos em prol do reino é porque Deus nos deu condições para tal. Se não fosse à graça não teríamos tal condição, pois estávamos mortos em delitos e pecados (Efésios 2:1,) e morto nada faz, é inerte. Há alguns que fazem por “aplausos”, estes, porém ou caíram da graça ou nunca provaram um favo da sua doçura;
O REINO:
A parábola mostra que o reino dos céus não se dá por uma ação meritória dos homens, mas pela graça de Deus. Diferente da transação comercial de barganha que a Parábola trás em seu início;
O centro da Parábola é a generosidade (Graça) do Pai (Mateus 20:15);
A Parábola vai esclarecer a advertência de Mateus 19:30 e gira em torno dessa temática em que “os primeiros serão derradeiros, e os derradeiros serão últimos”;
Desta forma podemos aplicar a mesma de duas formas:
1ª - JUDEUS X GENTIOS:
Temos a mesma afirmativa de Mateus 19:30 em Lucas 13:30 e pelos versos 28 e 29 de Lucas 13 fica claro que os primeiros tratam-se dos judeus e os derradeiros dos gentios;
Essa entrada dos gentios no reino era um mistério que estava se revelando (Efésios 3:1-6);
Na perspectiva escatológica dispensacionalista os gentios/igreja serão os primeiros em virtude do Arrebatamento e os judeus últimos em virtude da Grande Tribulação;
Vejamos alguns pontos:
Mt 20:1 – O pai de família representa Deus Pai e era uma figura comum nas diversas parábolas contadas por mestres judeus da época;
Mt 20:2 – Esses trabalhadores da primeira hora são os judeus chamados no velho pacto. Eles tinham um salário ajustado com Deus através da lei; Os próximos trabalhadores só recebem a promessa que teriam o que fosse justo. Isso indica Fé na palavra do Pai. Logo a parábola apresenta Graça e Fé (Efésios 2:8);
Mt 20:6 – Os trabalhadores da undécima hora são primeiramente os publicamos, meretrizes e pecadores com os quais Jesus lidava (Mateus 9:11,12) e posteriormente os gentios que formariam a igreja;
Mt 20:7 – Os trabalhadores da undécima hora são questionados porque passaram o dia todo ociosos e respondem que ninguém os contratou. Se esses trabalhadores são os gentios, quem os deveria ter contratado (apresentado a salvação) em todas as horas do dia? Os judeus, pois eles no passado tinham a missão de proclamar a salvação de Jeová (veja o livro de Jonas);
O Pai foi atrás de trabalhadores por 4 vezes demonstrando sua pressa em terminar o trabalho (salvar);
Mt 20:8 – Eles recebem o salário antes de anoitecer, cumprindo a lei de Deuteronômio 24:14,15 demonstrando assim que todos eram pobres. Jesus demonstra que todos somos pobres e dependemos do sustento do Pai, tanto os primeiros como os derradeiros;
Mt 20:12 – Nessa perspectiva de judeus e gentios, temos aqui a reclamação do judeus acerca da igualdade e co-participação deles na salvação e no reino de Deus. Subjetivamente eles acusam o Pai de injusto e mal administrador, mas veja a resposta profética de Deus em Romanos 9:14,15. Quem sabe eles se achavam melhores administradores da vinha que o Pai que segundo o pensamento deles estava esbanjando seus recursos com quem não merecia, por ter trabalhado tão pouco tempo. Satanás também quis ser maior do que Deus (Isaías 14:13,14) e colocou algo semelhante no coração de Eva (Gênesis 3:5) como quem diz “vocês podem ser iguais a Deus”;
Mt 20:14 – Deus é imutável e seria os argumentos dos trabalhadores da primeira hora que o mudariam;
Mt 20:15 – Deus é soberano e faz com o que é Dele o que quer. Agora os trabalhadores da primeira hora eram gananciosos, possuíam o olho mau para a generosidade do Pai, invejavam os outros trabalhadores (Provérbios 28:22);
Mt 20:16 - Finalizando os discípulos de Jesus precisam estar vigilantes e com zelo para não se tornarem últimos como os judeus com o adendo agora que muitos serão chamados, mas pouco serão escolhidos, ou seja, ser derradeiro pra igreja é perder sua salvação, a qual só chegou a nós pelo que Jesus fez na Cruz (evangelho/graça).
2ª - DISCÍPULOS DE JESUS:
Pelo verso 27 de Mateus 19, podemos concluir também que Jesus estava falando somente de seus discípulos, sem envolver todo este contexto de Judeus x Gentios no reino;
Se assim for quase todos os comentários anteriores se replicam aqui exceto que:
Mt 20:2 – Os primeiros trabalhadores falavam dos primeiros discípulos, aqueles que estavam com Jesus naquele momento;
Mt 20:6 – Os trabalhadores da hora undécima são outros cristãos que seriam incorporados a Igreja, como o caso de Paulo, e estes teriam o mesmo pagamento dos primeiros que estiveram com Cristo, como Pedro, que foi quem levantou a questão. Numa projeção mais futurista poderiam ser os cristãos do Arrebatamento, mas ai o verso 16 não tem muito sentido, pois os primeiros serão os primeiros a ressuscitar com corpos gloriosos (I Tessalonicenses 4:16);
Sendo assim, Jesus está orientando os discípulos a terem vigilância e zelo. Ainda podemos abranger com a questão entre Judeus x Gentios e dizer que os discípulos não podem ser como os judeus que se tornaram últimos.
Essa segunda aplicação parece ser a mais simples e correta do texto levando em consideração todo o seu contexto.
Todavia o mais importante de tudo e saber que nossa salvação não vem pelo mérito humano, mas é um dom gratuito (graça) de Deus.
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